SALTIMBAMBE MAMBEMBANCOS: A ARTE DO ENCONTRO ENTRE ESPETÁCULO E PLATEIA
por Evill Rebouças
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Saltimbembe mambembancos, com dramaturgia, direção e produção dos integrantes do Circo Teatro Rosa dos Ventos reúne quadros, situações e números circenses presentes na tradição popular. No entanto, por mais que revisitem o que já é consagrado, Fernando Ávila (Dez pra Sete), Gabriel Mundo (Beterraba), Luís Valente (Tiuria) e Tiago Munhoz (Custipíl de Pinóti) imprimem particulares leituras e intervenções que resultam em deleite ao espectador.
Acompanhados musicalmente por Robson Toma (Nicochina), os rapazes em questão – aqui denominados meninos para fazer jus à aura brincante instaurada na arte e na vida – brincam literalmente em trabalho. Tal brincadeira é tão potente que não há como diferenciar o que é ficção e o que é real, a ponto de aproximar o trabalho dos meninos ao conceito de presentificação do corpo: denominação bastante utilizada na performance para distinguir aspectos entre representação e performatividade. Isto é, no teatro, comumente, o ator representa a ficção; já na performance, geralmente, o artista prima pela não representação, pois não existem limites ou separações entre o que é ficcional e a sua vida. Se o performer tem sotaque, essa sonoridade se fará presente, independente da figura retratada na performance ser de outra região; um corte no corpo jamais será algo representado por maquiagem, mas realizado no corpo do atuante; e no caso dos meninos do Rosa dos Ventos essa potência chega à cena porque eles se desnudam enquanto cidadãos, sem negar o tempo real do acontecimento teatral e as situações que permeiam as suas criações poéticas.
Antes de o espetáculo começar (se é que podemos dizer que ele não começou), os meninos promovem uma relação de aquecimento com o espectador por mais de uma hora. Expõem, qual performers, o real: se maquiam, vestem figurinos, colocam pernas de pau e conversam sobre amenidades entre eles e plateia. Essa relação é tão verdadeira e humana que um número enorme de crianças se disponibiliza para erguê- los sobre as pernas de pau. Hilário é o momento em que uma das crianças assume a função de almofada, caso o palhaço que será levantado venha a cair. A confiança nos atuantes e o entendimento do jogo são tão verdadeiros que, um homem, depois de ser equipado com capacete e fralda descartável, vê claves passarem rentes ao seu corpo; uma criança se deita no chão e permite que Beterraba faça acrobacias sobre ela.
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Para que por a arte a frente da vida se não conseguimos fazer arte sem vida? Literalmente esse é o princípio ideológico e poético vivenciado e compartilhado por esse coletivo de artistas, singelos e avassaladores no trato com a vida e com suas criações poéticas. Vida longa a meninice presente no trabalho do Rosa dos Ventos!
Evill Rebouças é dramaturgo, encenador, ator, professor de artes cênicas e um dos fundadores da Cia. Artehúmus de Teatro. Recebeu diversas indicações e prêmios, dentre eles, APCA, Shell e Cooperativa Paulista de Teatro. Licenciado em artes cênicas pelo Instituto de Artes da Unesp e pela mesma instituição recebeu o título de mestre com a pesquisa “A dramaturgia e a encenação
Esta crítica foi produzida após a apresentação do espetáculo no OXANDOLÁ (IN)FESTA, no dia 23 de maio às 20 horas na Praça Juvenal Hartmann - cidade de Francisco Morato - SP
Foi publicada no seguinte endereço:
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